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Alimentação e Qualidade de vida com Doença Celíaca

roacutan e crohn

“Na vida a mudança é inevitável. A perda é inevitável. A felicidade reside na nossa adaptabilidade em sobreviver a tudo de menos bom que a vida nos dá”, Buda

E assim, começa a minha história…

A vida corria sobre rodas, cheia de projectos novos e uma vida pessoal que me preenchia. E foi assim que em Janeiro de 2011 eu e o meu marido decidimos que era altura de dar um passo em frente e construir a nossa família, mas o processo não foi simples. Aparentemente estava tudo bem, mas quando suspendei a pílula (que tinha tomado durante vários anos), o meu sistema reprodutivo estava todo baralhado, isto é, não tinha período menstrual, não fazia a ovulação e, consequentemente, não conseguia engravidar. Fizemos vários exames e não se chegava a nenhuma conclusão. Foram tempos difíceis, pois suspeitava-se de infertilidade sem causa aparente e foi aí que iniciamos tratamentos específicos.

Ao fim de 1 ano consegui engravidar. A gravidez correu muito bem, mas os problemas surgiram após o nascimento do meu filho. Tinha muitas dores nas articulações, em todos os músculos, não conseguia dormir, perdi muito peso até que em Fevereiro de 2013 fui operada de urgência a uma hérnia discal gigante com compromisso neuropático. Correu tudo bem, mas as sequelas ficaram e ninguém sabia explicar as dores, o cansaço extremo, a irritabilidade, a sensação de tristeza, enfim de mal-estar generalizado. Não tinha qualidade de vida, mas pensava que era normal por ter um bebé pequeno e uma actividade profissional exigente. Até que em Janeiro de 2015 comecei a ter irregularidades menstruais severas, hipoglicémias acentuadas, dores em todo o corpo, rigidez matinal e parestesias, obstipação, distensão abdominal e as dores nos músculos e articulações acentuaram-se. Por momentos pensei que estava a enlouquecer, pois por mais que tentasse explicar o meu mau estar todas as palavras não eram suficientes para exprimir o meu sofrimento.

Em Julho desse mesmo ano, comecei com alterações intestinais, muco e sangue nas fezes e aí decidi consultar um gastroenterologista. Fiz um batalhão de exames, endoscopia com biópsia, colonoscopia, marcadores específicos para várias doenças autoimunes e finalmente chegámos a um verídico: Doença Celíaca. Por um lado foi um alívio, pois de todos os cenários este seria, talvez, o menos terrível, mas e agora? O que vou comer? Como vai ser a minha Vida?

Uma nova Condição…

Durante todo este processo de mudança fui seguida por uma nutricionista que me orientou em termos alimentares, de modo a regenerar a mucosa intestinal, pois a parede intestinal estava com várias lesões e era muito importante tratá-las.

Ao longo de 3 meses tive severas restrições alimentares: só podia comer peixe, carnes brancas, alguns ovos, pão sem glúten, poucos legumes e algumas frutas. Nada de lacticínios com lactose, batatas, arroz, leguminosas e oleaginosas. Durante todo este tempo o meu almoço e jantar era carne ou peixe com pouca fruta. Passei fome, já estava farta dos mesmos alimentos e, apesar de inicialmente ter melhorado, havia qualquer coisa que não estava em sintonia, pois a hipoglicémias continuavam, passava o tempo todo a comer e mesmo assim não tinha energia para nada.

Resignei-me e tentei aceitar a minha nova condição. Mas, como mulher do Norte que sou, a autocomiseração não reside no meu vocabulário e fui à luta. Comecei a pesquisar, a ler artigos sobre alimentação e doenças autoimunes e foi aí que me deparei com o livro da Joana, “30 dias para mudar de vida, Detox Paleo”.

E a Alimentação Paleo…

Foi um alívio encontrar alguém que partilhava da mesma visão que eu e que confirmava que a vida era muito mais que isto.

Iniciei a Alimentação Paleo em Maio de 2016. Retirei por completo os lacticínios, fui introduzindo gradualmente as oleaginosas, os Hidratos de Carbono de absorção lenta como a batata-doce, cenoura, abóbora, mandioca, sempre lendo os sinais que o meu corpo ia dando. Acima de tudo passei a respeitar o meu organismo, inicialmente a medo, mas depois como os resultados começaram a surgir, a confiança ajudou-me a continuar a trilhar este caminho.

Não foi fácil deixar de comer arroz, massa, qualquer tipo de pão, lácteos e mudar todo o paradigma alimentar. Sim, porque começar o dia com uma tigela de sopa e o resto do jantar primeiro estranha-se, mas depois entranha-se. Hoje em dia, faço cerca de 3 refeições diárias: um grande pequeno almoço, almoço e jantar e sempre que sinto fome faço uns snacks. Sem culpas, medos, simplesmente escuto o meu corpo e vou nutrindo-o. Passei a reservar algum tempo para planear e preparar as minhas refeições, mas como a cozinha sempre foi uma das minhas paixões não me canso de fazer experiências novas, de testar novos sabores e texturas. Cá em casa todos ganhamos mais saúde, pois por regra as refeições são para toda a família, não havendo grandes distinções.

Resultados???

Sim e foram muitos. Aliás quem me conhece refere que tenho um aspecto mais saudável, uma tez mais brilhante. Durante todo este processo, a mucosa do intestino regenerou-se, passei a ter um padrão intestinal diário, as dores desapareceram, tenho uma energia e clareza de raciocínio como nunca experienciei, retomei à minha forma física e, acima de tudo, recuperei a minha essência, a alegria de viver que sempre me caracterizou: Qualidade de Vida.

Hoje posso afirmar que durante todos estes anos limitei-me a sobreviver.
Obrigada a todos aqueles que tiveram paciência, que me ampararam, que me limparam as lágrimas, que me ajudaram a levantar quando as forças já eram poucas. Eles sabem quem são…

Que a minha experiência servia para ajudar outras pessoas, que como eu um dia, se sentiram perdidas, desamparadas e a beira do abismo.

Há mais vida para além da Doença Celíaca…